A Fake News do “Estupro Culposo” e o Pensamento em Bando: O Caso Mariana Férrer

A Fake News Do Estupro Culposo E O Pensamento Em Bando O Caso Mariana Ferrer

“Homens, foi bem dito, pensam em bando; verá que enlouquecem em bando, enquanto só recuperam os sentidos lentamente, um a um.” – Charles Mackay, autor do belo livro “A História das Ilusões e Loucuras das Massas”, (“Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds”).

 

Com essa frase inicio esse lamento, pois não sei de outra melhor palavra para descrever o que vivemos.

 

Impulsionado pelas redes sociais, o mundo vive de torcidas manipuláveis e distorções da verdade. Pedaços de vídeos editados, parágrafos retirados de contextos e pronto, está assado o próximo factoide para destruir reputações.

 

Isso foi o que vislumbramos no caso Mariana Férrer, onde o veículo de desinformação The intercept Brasil publicou trechos de um processo em segredo de justiça, e cunhou o termo “ Estupro Culposo”, que não está no processo, mas foi propalado contaminando inclusive “advogados”, que mesmo desconhecendo uma linha dos referidos autos, chegaram a dar entrevista.

 

Dos “leigos” nem digo nada, mas advogado falar de processo que desconhece o teor, sem terem lido a sentença sequer, é o que está ocorrendo. Doutores de Facebook, de matérias sensacionalistas.

 

De políticos se aproveitando do momento para fazer suas campanhas baixas, lixo na verdade, não esperava nada diferente, mas de advogados, é no mínimo vergonhoso ver compartilhamentos de desinformação. Depois querem respeito.

 

Imagino até que tenham a inscrição na ordem dos advogados, mas não advogam, pois quem milita diuturnamente, em qualquer que seja a área, sabe que um processo tem uma história, e a questão não é tão simplista como se apresenta.

 

No caso em comento, eu li a sentença do processo, 51 laudas, e não há nada a respeito desse tal, “estupro culposo”.

 

O réu em questão, foi absolvido com base no art 386 do Código de Processo Penal, que diz;

 

Art. 386.  O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:

 

VII – não existir prova suficiente para a condenação.

 

O próprio MP de Santa Catarina emitiu nota desmentindo a matéria obscena que ataca essa instituição, quem quiser ler a nota, clique aqui.

 

Não há o tal tipo penal “estupro culposo, inventado e propagado mentirosamente pelo the intercept, que depois veio justificar a publicação da fake News.

 

Apensar da nota justificativa de fake News acima, a manada segue publicando, compartilhando e falando todo tipo de asneira sobre o tal estupro culposo.

 

É interessante como as pessoas acreditam no que querem acreditar e não no que é verdade. Mesmo confessando a mentira da publicação, milhões seguem mantendo suas posições, de outra forma assumiriam estar errados.

 

E digo, as pessoas preferem perder dinheiro do que aceitar que estão errados.

 

E mesmo mostrando a mentira, seguem falando e propalando a tal fake News.

 

Artifício usual do jornalismo é mentir, descaradamente, prejudicando muitas vidas, inclusive a própria vítima, que se vítima é, agora com a exposição terá o sofrimento aumentado.

 

O pensamento crítico desapareceu após as redes sociais. Já observaram como todo mundo gosta de ser o primeiro a postar uma notícia, mesmo sem confirmação? E seguem compartilhando. Isso é comportamento de manada.

 

Isso é pensar em bando. O professor falou você fala. O amigo disse você diz, está todo mundo falando eu falo também.

 

Deveríamos lembrar daquela bronca que levávamos dos nossos pais quando dizíamos que todo mundo estava fazendo e eles diziam; “você não é todo mundo”.

 

As pessoas estão simplesmente seguindo o fluxo, sem parar para conferir a verdade. Atribuem uma confiança a esses tabloides mentirosos como se fosse a Bíblia Sagrada.

 

É como se dissessem; “se está na internet é verdade”.

 

Como isso milhares de vidas são prejudicadas com essas falsidades, edições, meias verdades.

 

O nazismo surgiu e efetivou um dos maiores genocídios da humanidade através de manipulação de massa, de terceirização do pensamento, de abandono da crítica, e o resultado foi horrível.

 

Manipulação de mercados financeiros, ouro de tolo, e tantas outras falácias financeiras, surgem de manipulação das massas, de pensamento em bando.

 

Voltemos ao pensamento crítico, à dúvida, à checar a informação antes de sair por aí querendo ser arauto de más notícias.

 

Imagino, digo, apenas imagino, horas de horas de vídeos de testemunhas, peritos, assistentes, defesa, acusação, saneamento, milhares de páginas, com manifestações, perícias, para que depois alguém que sequer leu uma linha do processo venha proferir a sentença de facebook.

 

Além dos delinquentes intelectuais, são preguiçosos que não se dão ao trabalho de ler a sentença, talvez se estivesse em vídeo no youtube, ainda colocariam em velocidade dois e gastariam um tempinho assistindo, fora isso, os aproveitadores.

 

Aqueles que querem promover suas políticas em cima de mentiras, de fatos que não ocorreram, nem que para isso tenham que agredir a reputação da instituição da justiça e todos os seus componentes.

 

Espero que um dia você que ser arvora a ser juiz que não conhece o processo, não seja acusado injustamente, de estuprador, por exemplo, onde é extremamente difícil ir contra a palavra da vítima, e que essa acusação não caia nas redes sociais, porque se cair, você será o próximo a ir para a fogueira.

 

Na idade média, algumas mulheres foram queimadas acusadas de serem bruxas. Bastava alguém descontente com uma pessoa, que levantasse uma falsa acusação e se juntasse a mais um que confirmasse a mentira para que a pessoa fosse queimada viva.

 

Vivemos um tempo igual, onde carreiras, nomes, serviços são queimados a todo instante na internet, bastando uma mentira como essa do The intercept para atacar a imagem das pessoas.

 

Nesse caso, a justiça foi atacada frontalmente por uma fake News e sentiu na pele o que é o pensamento de manada.

 

Tudo isso provém da falta da razão, da crítica, de pensar por si e não terceirizar essa questão tão importante que é a capacidade de decidir.

 

Há quanto tempo a manada vem decidindo por você? O que vestir, o que comer, onde ir, qual profissão escolher, a política a defender?

 

Há quanto tempo você abandonou a capacidade de pensar com a sua própria capacidade sem ser levado pela correnteza das redes sociais.

 

Saia da matrix. Experimente pensar de forma individual, sem ser contaminado. Experimente viver sem jornal, sem ter suas emoções atingidas por mentirosos.

 

Pare de pensar em bando. Você pode.

 

Deixe sua opinião nos comentários.

 

Dr. Rafael Rocha

Compartilhar esta postagem
Fale conosco!